sexta-feira, 4 de agosto de 2006

UMA LENDA PARA AS VIZINHAS DO SOBRAL

“lendas e maravilhas …OU UM POUCO DE HISTÓRIA!

A manhã já ia adiantada e um sol primaveril aquecia a terra que o orvalho nocturno regelara. Apenas o fumo que subia em espiral dos telhados de xisto das casas da aldeia de Cebola manchava o dia claro.
Àquela hora, já Ti Carlota descia o povoado, de cesto à cabeça, onde levava o almoço quentinho, a esfumar paladar, aos “obreiros” que trabalhavam lá em baixo, ao Vale de Muro, ia observando algumas terras já arroteadas, quando, ao lugar da Eira das Casas, viu, como que numa visão, uma linda senhora, de longos cabelos loiros, a pentear-se com um pente de ouro. Surpresa e tímida, salvou Ti Carlota a linda senhora, que mais lhe parecia uma princesa. Esta respondeu à saudação e inquiriu sobre o que ia no cesto. Informada, pediu à Ti Carlota que repartisse com ela parte do almoço do “obreiros”.
Não ia com pressa a Ti Carlota e, de qualquer maneira, não deixaria de dar de comer à linda senhora, como faria com qualquer pobre faminto que naquele tempo não raro se topava pelo caminho. Satisfez o pedido da linda senhora e, esta, muito agradecida, retribuiu, despejando a um canto do cesto do almoço o que tinha num saquinho, que era, nem mais, nem menos… carvão!
Ti Carlota ficou muito admirada, mas não disse nada. Despediu-se da linda senhora, salvando-a, e logo se afastou até onde não podia ser vista, atirou fora o carvão, considerando pouco asseado pô-lo no cesto junto da comida.
Reunia já o pessoal quando Ti Carlota chegou. Esta, antes de mais, quis, mesmo cansada e em alvoroço, que ouvissem a historia do seu estranho encontro. Mas o apetite dos “obreiros” não parecia deixá-los prestar a atenção devida, nem sequer crédito. Percebeu-o, a Ti Carlota, e dispôs-se a distribuir as refeições. E eis que, ao destapar o cesto, retirando uma grande toalha, deu de caras com pequenas partículas de ouro no sítio onde esteve o carvão. Foi o espanto geral!
Correram com um só, ao local onde Ti Carlota tinha deitado fora o carvão, mas dele nem vestígios; foram ao lugar da Eira das Casas, mas da linda senhora, de longos cabelos loiros, que se penteava com um pente de ouro, também não havia sinais.
Um a um, chegaram à conclusão que a Ti Carlota esteve na presença de uma moura encantada e à beira de ser rica.

Escrito por José do Fetal e publicado no Jornal "A Carlota" nº 6 de 18 de Janeiro de 1976

3 comentários:

Anónimo disse...

Bem haja por este contributo e por esta dedicatória!!! Faz-nos recordar tempos em k as lendas faziam parte das nossas distrações enquanto ajudavamos no campo... mm sendo de outras gerações!!! Faz parte do meu imaginário, faz parte das minhas recordações, faz parte da minha vida... Bem haja!!
Peço desculpa, mas não pude deixar de "copiar" a lenda e colocá-la num dos comentários do blog do Sobral...

finadamina disse...

chenouca's, Não tens que agradecer nem pedir desculpa, faz parte do nosso imaginário e do nosso património cultural, portanto é NOSSO.Eu é que fico sensibilizada com a tua atitude.

Anónimo disse...

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