quarta-feira, 30 de agosto de 2006

Para a chenouca's

Chenouca's és bem mulher da tua terra! Serrana! De manga arregaçada!

Fizeste bem em chamar a atenção. No blog e, em comentários anteriores defini a minha posição, todos a conhecem. Vizinha não me peças para intervir ... não quero.

Vou contar-te uma estória, que para mim tem sido motivo de reflexão e é paradigama da situação que aqui se vive e de outras que se viveram e, penso eu, se viverão.

Em tempos muito, muito antigos, que nem 200 anos de memória conseguem alcançar, numa das encostas da serra "Picoto de Cebola" ( não se sabe se foi a serra que deu o nome à terra, se foi a terra que deu o nome à serra), nasceu um ribeiro que alegre, sempre cantando serpenteava pelo meio verdejante de um grande Souto.

Não havia igual nas redondezas.

O Ribeiro do Souto, assim era seu nome, não quiz aquela beleza só para si. Umas vezes de mansinho, outras de roldão foi tornando prenhes as terras que nas suas margens estavam e esperavam que alguém delas tirasse a vida.. esperou ... esperou...

Quem descobriu aquele sítio? Não podia ter sido outra gente - Pastores!

O sítio era bom. Tinha água fresca. A terra era boa, toda a semente que nela caísse era certo e sabido que dava fruto.A serra para apascentar os rebanhos era logo ali. Que queriam mais?

Assentaram arraias! A um/a juntou-se outro/a, e outro/a... e é assim que no sec. XVII, existem 240 almas e no Sec. XVIII, são já 360 almas!
A terra, os castanheiros, o gado, o estanho que aprenderam a tirar das entrenhas da terra alimentavam-lhes o físico.

Havia necessidade de tratar das coisas da Alma.

Não se sabe quando, no sítio mais bonito do Souto construiram uma Igreja, toda em pedra e rodeada de um bonito adro. Era a Casa mais Bonita da Aldeia e à volta dela Cebola foi crescendo, crescendo ... um pouco acima um ferreiro, ali um forno, lá para além um moinho, não muito longe uma Eira...

O Povo foi Crescendo, a Igreja tornou-se pequena para albergar tanta alma.
Há notícia de que a Igreja sofreu um alargamento, tendo ficado:
"Uma igreja de tamanho medio, acolhedora e construida com material local: Xisto, ardosia, barro e madeira de castanho. O seu interior era rico em talhas douradas e madeira trabalhada por artifice da regiao: três altares estilo D. Joao V, balaustrada, pulpito, coro e imagens antigas."in: http://www.cebola.net/historia.htm

Os anos foram avançando, o Povo tornou-se indepemdente. Era sede de Freguesia por direito.
Nos finais do Sec XIX, inícios do sec XX descobriram-se umas pedras reluzentes. Interessavam a pessoas importantes.Eram gente de fora. Precisavam do Mineral, eles lá sabiam para quê, para o Povo era dinheiro, eram melhores condições de vida, uma casa nova, um filho que ia estudar ... Ocaram-se as serras, revolveram-se as terras...

A Vida mudou...

Deixaram de se ouvir os Pífaros dos Pastores, que esses sei eu existiram. Já não sei se, para dirimir tensões se se dançava, à semelhança dos pastores de Verdelhos, a "A Dança das Trancas" , isso não sei...
Só sei que, se tornou costume, não haver festa, digna desse nome, em que sessão de pancadaria não houvesse...as "capelas" e "capelinhas" aumentavam...as tensões subiam. Aparecem os a favor, os contra, os nem lá vou nem faço caso...
O Povo crescia, as almas não cabiam dentro da Igreja. Por esse tempo a freguesia tinha mais de 3.000 pessoas, só na sede de freguesia viviam perto de 1.800 almas.

Era urgente uma outra Igreja.

Surgiu a ideia de se construir uma Igreja nova. Aqui o busílis da questão: -ONDE?
Uns queriam a Igreja ali para os lados da Eira, perto do Clube.
Outros queriam-na ali para os lados da Ponte (Courelas).

Ninguém se entendeu.Uns não iam à Missa ao Cimo do Povo, outros que não iam à Missa ao Fundo do Povo.
Prevaleceu o egoismo e a intolerância. Não se foi capaz de criar alternativa. Não prevaleceu o bom-senso.

Destrui-se A Igreja Velha, deitaram-se abaixo centenas de anos de História, coartou-se a possibilidade a gerações futuras de conhecemo as suas origens.

Deitou-se abaixo a Igreja Velha, para construir a Igreja Nova. TODOS PERDEMOS. Ganharam os do Contra, Ganharam os a Favor.

Chenouca's de vez enquando a história repete-se e não somos capazes de nos sentar, de reflectir em conjunto e tomar decisões.

Agora vem a coisa mais extraordinária da minha gente e, como o que não tem remédio remediado está, todos à uma lançaram-se na construção da Igreja nova.

Toda a gente contribuiu, uns com trabalho outros com dinheiro.

Foi um dos momentos bonitos de solidariedade e de união do Povo e que com letras de ouro na história da Aldeia fica gravado- A construção da Igreja.

Nós somos assim.

Espero é que na resolução do problema da "Camioneta da Carreira" não se repita a tradição...



5 comentários:

Anónimo disse...

Finadamina gostei de ler a sua historia.
É pena, é que nunca se encontre uma solução.

Um Abraço
Marco Pereira

Anónimo disse...

pralém de criação de desavenças inda me ásde xplicar pa ké q servem as igrejas (pode tirar a parte da pedofilia e da extorssão na explicação e assassinatos em toda a história e tb a parte em que o chenouca entra na história)

Anónimo disse...

Grelo... estás a ficar espigado!!! Q tal reflectires melhor... "ele há com cada uma..."

Obrigada, Finadamina!!!! Fiquei "desfeita" com esta dedicatória e claro q me identifico com esta subtil resposta, mais uma vez, a grandiosidade dos "feitos" está em quem os constroi e ñ em que os vê... em tudo há semelhanças, em tudo há caracteristicas comuns...em tudo, até nas gentes!!! Triste é que haja quem prefere ver para "além de", em vez de ver "o que" nos faz ser o que somos!!!! Edificios há mts (seja a igreja, seja uma casa do povo, seja uma associação, ..., seja!!!!) a UNIÃO, a FORÇA, a PARTILHA é que ñ é comum a mt gente... e isso vê-se!!!! BEM HAJAS...por seres, por veres, por sentires, e por acreditares nos valores e principios q nos alicerçaram!!!

Anónimo disse...

ate porke a uniao do conhecimento faz a força da evoluçao historica e ancestral...we are one...

Anónimo disse...

Tenho a fotografia da construção da nova igreja, caso pretendam está afixada na minha casa do Pombal em S. Jorge .

Carla Geraldes